Oxalá


Data: 1990
Realização: ACBEU – Associação Cultural Brasil-Estados Unidos
Local: Galeria da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos em Salvador/BA.

Apreciação crítica:

OXALÁ – O UNIVERSO SÍGNICO DE RONALDO MARTINS
Estamos diante da produção de um artista sério, que procura encontrar seu próprio caminho. Um artista que, com talento e inteligência, vem captando a mensagem estética oriunda da cultura africana, decodificando-a, dando-lhe um tratamento erudito e essencialmente pessoal.
Com essa matéria-prima, estabelece uma linguagem que se impõe pela intensidade plástica, realizando uma pintura aparentemente figurativa, mas com potencialidades sígnica e abstrações sutis, sem se afastar de um tratamento formal pleno de barroquismo, no que se filia aos princípios mais tradicionais da arte brasileira na qual tudo é detidamente pensado. Assim, consegue dar à sua arte uma conotação atual e contemporânea, onde um desenho simplificado e uma pintura extremamente sofisticada estabelece diálogos figurativos e sobretudo apelos à linguagem simbólica.
Seu desenho transmite pureza linear, aumentando o valor artístico da obra, na qual as figuras estão impregnadas de determinação e caráter, contendo nuances psicológicas, estabelecendo e criando um estilo absolutamente pessoal onde os conteúdos da cultura afro-brasileira são apreendidos com extrema sensibilidade e nos passam a ideia de uma atmosfera sóbria mas não menos eloquente, o que vem importar na realização pessoal de uma objetividade própria e renovada. Uma obra em que quase tudo é simbólico, até mesmo a cor.
O fazer artístico de RONALDO MARTINS está calcado em ampla pesquisa pessoal, que deve ser ressaltada pelo caráter de seriedade com que é realizada. Essa pesquisa sofre etapas de interpretação até chegar à elaboração de composições sofisticadas em que a forma também assume uma dimensão especial, ligando-se à tradição da nossa melhor arte simbólica que tem em Rubem Valetim, Juraci Dórea, Sante Scaldaferri e César Romero seus melhores representantes e, no campo internacional, aproximando-se de Malangatana – um dos maiores nomes da pintura africana atual – com o qual, aliás, RONALDO MARTINS teve oportunidade de expor conjuntamente, em junho deste ano, na cidade alemã de Bielefeld, em mostra intitulada “REICHTUMER” (Riquezas) enfocando a arte da África, Ásia e América Latina.
A leitura da obra de RONALDO MARTINS faz o espectador pensar e diante dela não se pode ficar alheio à excelente técnica, grande luminosidade, execução primorosa e limpeza absoluta, com que nos leva ao fundamental, que é seu encontro com o elemento espiritual da arte afro-brasileira, revitalizado plasticamente numa visualização universal. Há nela uma unidade intrínseca na articulação dos elementos formais e reinterpretação da cultura das religião dos orixás, com o que o artista nos propõe a leitura de um mundo fascinante, antigo e contemporâneo, que deve ser apreciado com calma, para que nãos e perca a essência dos conteúdos intrínsecos ligados as divindades pesquisadas, através da qual se estabelece uma espécie de vocabulário não descritivo.
Portanto, uma obra frente à qual não se pode ficar indiferente, por isso que louvo suas qualidades e me solidarizo com o sentimento criador de RONALDO MARTINS.
Eduardo Evangelista
Crítico de Arte. Associação Brasileira e internacional de Críticos de Arte ABCA-AICA