AGBON:
ARTE, BELEZA E SABEDORIA ANCESTRAL AFRICANA. EDUCAÇÃO E PLURALIDADE CULTURAL
RONALDO MARTINS DOS SANTOS
Editora
da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB
2008
COMUNALIDADE
ARTE
E EDUCAÇÃO AFRO-BRASILEIRA
Foi
lançado no último dia 5 de dezembro de 2008, na Reitoria da Universidade do
Estado da Bahia – UNEB, Campus I, em Salvador, o livro AGBON: arte e
sabedoria ancestral africana. Educação e Pluralidade Cultural de Ronaldo
Martins dos Santos.
O
livro AGBON aborda a experiência na aplicação da LEI 10639/2003, realizada por
Ronaldo Martins, artista plástico afro-brasileiro, professor de Arte, mestre em
Educação e pesquisador do PRODESE – Programa de Descolonização e Educação da
UNEB/CNPq.
AGBON,
trabalho de mestrado orientado pela doutora Narcimária Correia do Patrocínio
Luz, é inspirado na obra do sacerdote, educador e escultor Deoscoredes
Maximiliano dos Santos, Mestre Didi, e tem por objetivo auxiliar a professores
do Ensino Fundamental das escolas brasileiras no estudo e elaboração de conteúdos,
práticas e dinâmicas educacionais que incluam o patrimônio civilizatório
afro-brasileiro nagô nos currículos escolares.
O livro desenvolve uma dinâmica educacional
afro-brasileira intitulada odara, ato de produzir o bom, o bonito, o
útil e eficaz, vivenciada nas Oficinas de Arte e Cultura Afro-brasileira AGBON,
coordenadas pelos professores Ronaldo Martins e Nicolai Carmo de Brito, através
de atividades que estão sendo realizadas no Colégio da Polícia Militar, unidade
Dendezeiros em Salvador, propagando, com orgulho e alegria, o patrimônio
civilizatório afro-brasileiro nagô entre crianças e jovens afro-brasileiros.
Ronaldo
Martins apresenta, no primeiro capítulo de AGBON, as bases científicas e
filosóficas que estruturam o pensamento e o conhecimento dos nagôs no Brasil.
No segundo capítulo, ele trata da sua vivência como pesquisador, artista e
professor comprometido com o combate ao racismo e a violência contra os
afro-brasileiros em Salvador. No terceiro capítulo, ricamente ilustrado com
pinturas e apresentações dos alunos e alunas, ele apresenta a sua vivência com
outros educadores na aplicação da LEI 10639/2003 na escola pública, Colégio da
Policia Militar, unidade Dendezeiros em Salvador.
Em
AGBON, Ronaldo Martins reproduz e desenvolve os resultados das atividades com
diretoras, coordenadoras, professoras do ensino fundamental II – 6º ao 9º ano,
obtidos através de um trabalho de múltiplas faces, inspirado nos contos,
história de vida e esculturas do “mais velho”, portador de grande sabedoria, o
Mestre Didi. Mostra como os orixás (princípios do ar, da água, do fogo, das
plantas, o caçador, o coletor, o rei, o conhecedor das ervas) são referências
positivas para a cultura e história afro-brasileira serem trabalhadas em sala
de aula, pois esses saberes, transmitidos por Mestre Didi através de seus
livros, catálogos e instituições, constituem um patrimônio africano vivo no
Brasil que merece ser mais divulgado nas escolas, um conhecimento que pode
contribuir de forma efetiva para aumentar a auto-estima das crianças e jovens
afro-brasileiros.
O
autor põe em evidência que, graças aos ancestrais ilustres (os egunguns) e aos
mais velhos, toda uma vasta gama de conhecimento do povo africano, tais como
tecnologias alimentares, concepções da existência, formas de sociabilidade e
expressões estéticas foram preservadas e recriadas no Brasil. Contrapondo-se às
argumentações de alguns educadores, que consideram serem os orixás e egunguns
conteúdos exclusivamente religiosos que não deveriam ser tratados nas escolas,
Ronaldo Martins escreve:
Essa
argumentação de alguns professores serve como exemplo, sobretudo, para
refletirmos sobre a predominância de um único modo de pensar e transmitir o
conhecimento nas escolas brasileiras. Infelizmente, nós, profissionais em educação,
pensamos as valiosas contribuições civilizatórias africanas e ameríndias para a
cultura nacional a partir do modo fragmentado de conceber a realidade, de forte
influência cultural européia que separa o mundo do trabalho do mundo da
ciência, do mundo da religião, do mundo da arte. Ou seja, interpretamos as
valiosas contribuições civilizatórias afro-brasileiras do culto aos orixás a
partir de uma única perspectiva, o olhar etnocêntrico dos colonizadores e seus
enquadramentos. SANTOS, R., 2008, p.
146.
Sobre AGBON, escrevem Ana Célia da Silva e
Moema Parente Augel:
A
pesquisa introduz um saber estigmatizado e excluído em território árido, de
difícil penetração, a escola brasileira. Evidencia o processo de africanização
constituído pelos africanos e seus descendentes no Brasil, retirando o sentido
de sincretismo a essa ação. Contribui para a aplicação da Lei 10639/2003
fornecendo solo para as disciplinas Educação Artística, História, Literatura,
dentre outras, constituindo-se em uma valiosa fonte de informações e formação
para os professores e alunos do Ensino Fundamental, entre outros.
Ana
Célia da Silva
Ronaldo
Martins soube muito bem integrar a biografia e o fazer de Mestre Didi, que lhe
serviu de fonte, guia e exemplo, na proposta pedagógica AGBON. Mostrou, com
orgulho e segurança, o que um trabalho na base, como é o que vem fazendo já há
alguns anos com centenas de alunos do Colégio da Polícia Militar, unidade
Dendezeiros, pode produzir frutos duradouros de orgulho pelas próprias origens,
de respeito pelas diferentes manifestações da alteridade, de inclusão dentro da
diversidade.
Moema
Parente Augel
SANTOS, Ronaldo M. AGBON: arte, beleza e
sabedoria ancestral africana. Educação e Pluralidade Cultural. Salvador:
EDUNEB, 2008.
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